Empresários apontam que 2016 seguiu a expectativa de queda, mas atingiu a estabilidade Como os especialistas previam, 2016 está sendo um ano difícil. Somente nos três primeiros meses do ano, a economia brasileira teve uma retração de 0,3%. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o país está "mergulhado" numa recessão profunda, por conta do aumento da dívida pública e, ao mesmo tempo, a crescente taxa de desemprego. E mais: segundo a projeção do fundo feita em abril, o Brasil deve fechar 2016 com uma redução de 3,8%. Em julho, um novo relatório mostrou a expectativa de uma retração "menos brusca", mas, ainda assim, ruim. E essas projeções negativas vêm acontecendo desde 2012. Para a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), este ano tem sido bastante desafiador, ainda com perspectiva de recessão e inflação alta. Um dos grandes problemas foi o aumento dos custos, que afetou as indústrias em 2015 e continua tendo impacto em 2016. Mas as exportações fortes ainda estão ajudando a equilibrar as receitas das empresas. Nos seis primeiros meses, a balança comercial do setor brasileiro de árvores plantadas teve um saldo de US$ 3,3 bilhões, o que significa um número 12% maior ao mesmo período do ano passado. Com relação à receita de exportações, a Ibá apontou que as vendas de celulose para fora do país, por exemplo, atingiram 6,4 milhões de toneladas, o que mostra um crescimento de 16,1% contra os 5,5 milhões de toneladas exportados em 2015. Na produção de celulose, o Brasil alcançou nove milhões de toneladas nos seis primeiros meses do ano, um aumento de 9,1% em comparação com o ano passado. Já o papel teve alta de 0,5%, fechando 5,2 milhões de toneladas produzidas. Ainda de acordo com o relatório da Ibá, no mercado interno as vendas de papel registraram estabilidade, com 2,6 milhões de toneladas. Mas mesmo com números aparentemente positivos divulgados pela Ibá, a opinião dos empresários de diferentes segmentos do setor de papel e celulose é unânime: 2016 foi péssimo para o setor. A Revista do Sinpacel ouviu alguns desses empresários para entender como a economia se comportou nos primeiros seis meses. Para Rui Gerson Brandt, presidente do Sinpacel, o setor de modo geral flutua da seguinte maneira: no mercado interno, a situação é preocupante, por conta da elevação de custo e a retração do mercado. Mas para quem opera no mercado externo, a questão cambial ajuda, por conta do dólar mais valorizado. "Nas duas situações o setor vai pagar um preço para o segundo semestre, porque não são situações confortáveis. A tendência para os últimos seis meses de 2016 é de uma estabilidade, mas isso não significa que o setor está bem", declara. José Eduardo Nardi, diretor industrial da Iguaçu Celulose, Papel S/A, avalia que o mercado no momento está estável, mas teve uma queda expressiva no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. No segmento de saco de cimento, por exemplo, o mercado caiu 15% em relação a 2015. E de 2015 para 2014, a queda também teve o mesmo índice. Tudo isso, segundo ele, afetou muito as empresas que atuam principalmente no mercado interno. "Os números ruins começaram a aparecer em 2013 e, entre os motivos, está a inadimplência, que aumentou. Vendemos menos e recebemos menos", diz Nardi. No segmento de alimentação, a queda foi ainda maior, chegando a 20%. É o que aponta Hildebrando Tuca Reinert, diretor-presidente da Leal Indústria e Comércio de Papeis. "Costumo dizer que caímos para o terceiro subsolo. Agora, paramos de cair, mas vamos demorar muito para chegar ao térreo. Confesso que estava mais otimista para esse ano, com a esperança de que o governo fizesse algo para segurar a economia, mas o que se viu foi um ano catastrófico", admite. Outro grande problema apontado pelos empresários para o ano ruim são as margens, que, segundo eles, "estão apertadíssimas". Claudio de Pauli, do conselho de Administração da Cocelpa, lembra que o custo aumentou significativamente, os juros estão altos e as margens caíram. "Com tudo isso, não tem como segurar o faturamento. No setor industrial de papéis para cimento, tivemos uma queda de produção na casa dos 50%. Por isso, não podemos ser muito otimistas. Para conseguir mudar, o primeiro passo é o controle da inflação, porque, hoje, alimenta-se a inflação para que ela seja um instrumento de arrecadação", avalia. E como uma queda leva a outra, o momento ruim vivido pela construção civil também tem levado outros mercados para baixo, como o de colmeias de papel voltadas para o miolo de portas. Olivier Neves, da Ecoplan Colmeias de Papel, disse que a queda do segmento foi em torno de 25% de 2015 para cá. "O ano passado foi muito ruim e o primeiro trimestre de 2016 também. Caímos até março, agora estamos mais estáveis. Não crescemos, mas também não estamos caindo. Além disso, os preços estão menores", revela. No segmento de embalagem e papel-cartão, a realidade não é muito diferente, segundo Fernando Sandri, diretor industrial da Ibema. A queda foi de 6%, mas ele lembra, ainda, que o mercado não cresce há muitos anos, porque depende diretamente da economia interna. Ou seja, com a queda da renda das famílias, o mercado parou. "Nosso segmento está diretamente ligado ao desemprego. Se aumenta o desemprego, as famílias deixam de consumir e cortam as compras. Também tentam substituir os produtos por aqueles mais baratos. É nesse cenário que estamos trabalhando no momento", comenta. Para Sandri, a grande dificuldade está no repasse de preços para o mercado, e a inflação é um fator presente e contínuo. De acordo com o diretor industrial da Ibema, o segundo problema é que para tentar se manter no mercado, as empresas precisam reduzir custos, mas, para isso, é preciso renovação e investimento. "Só que as condições atuais de investimento no Brasil são terríveis. Não se tem dinheiro para financiamento de longo prazo, e emprestar dinheiro na taxa de juro que existe hoje é suicídio. Não temos mercado nem acesso a capital. É um cenário que precisa mudar efetivamente para que possamos ter condição de desenvolver", garante. ENFRENTANDO A CRISE Quando a economia está difícil, as empresas precisam ser criativas para sobreviver. E para os empresários ouvidos pelo Sinpacel, a melhor dica é o corte de despesa. "Não tem outra saída", define Celso Rufatto, diretor industrial da Relevo Artefatos de Papel. "Investir em tecnologia também é uma boa opção", diz. Para Tuca Reinert, o foco da Leal Indústria e Comércio de Papéis está no aumento de produtividade, diminuição de perdas e melhoria da eficiência em todos os aspectos. "Diminuímos turno, hora extra e até material de escritório. Estamos cortando tudo o que podemos e estamos priorizando a racionalização de estrutura. Por isso, o segredo para conseguir sobreviver é enxugar", destaca. Além de todos esses pontos, Claudio de Pauli também aposta na terceirização. "As empresas vão se concentrar em suas atividades-fim. Por isso, a terceirização no sentido de aumentar a eficiência é boa. Quando falamos em enxugar, não estamos falando em aumentar o desemprego, mas em aumentar eficiência", acredita. EXPECTATIVA PARA 2017 Segundo o relatório divulgado pelo FMI, a expectativa é de que a economia volte a crescer no próximo ano, mesmo que lentamente. Ainda haverá retração, mas a projeção é de que o país "encolha" somente 3,3%, contra os 3,8% estimados para 2016. Isso quer dizer que o fundo prevê um crescimento de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Essa é a primeira vez desde 2012 que o FMI divulga uma expectativa positiva sobre a economia do Brasil. Porém, o relatório aponta que ainda há incertezas políticas e isso pode influenciar nas projeções. Para os empresários ouvidos pelo Sinpacel, o próximo ano deve ser igual a 2016, mas no sentido da estabilidade. Não vai cair, nem crescer, dizem eles. "Isso não significa que tenhamos um quadro bom. Só esperamos que não piore", diz De Pauli. E para que o setor consiga novamente avançar, a expectativa deles é de que a recuperação só chegue em 2020. "Para recuperar a queda acentuada que tivemos, vamos enfrentar muitos anos difíceis. Se caímos 30% de 2013 para cá, teríamos que subir 5% real ao ano para chegar em 2020 mais estabilizados. Por isso, estamos sendo bem otimistas. Mas esse é justamente o papel do empresário: manter o otimismo e buscar alternativas", finaliza. O QUE O SETOR FLORESTAL PRECISA PARA CRESCER? Para a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o setor florestal é um dos setores que impulsiona a economia brasileira. Mas, para que isso continue sendo realidade, a entidade defende os seguintes pontos: • Estabelecer políticas públicas claras que atuem com a desoneração tributária de investimentos; • Resolver os principais entraves de infraestrutura e logística; • Desburocratizar os processos como o licenciamento ambiental e a revisão da restrição para a aquisição de terras por empresas de capital estrangeiro; • Adotar mecanismos de incentivos, como a criação de remuneração aos provedores de serviços ecossistêmicos e a substancial ampliação da área de florestas sob manejo sustentável.